
Abraço-te no meu peito, como da primeira e eterna vez que te vi. Aperto-te e viajo no teu calor; Abandono-me à invasão da tua presença e esqueço-me de mim.
Não quero fazer um poema, nem ter cuidado com o jogo e a coerência das palavras. Vou apenas deambular pela escrita, gemendo aquilo que pelo meu pensamento passa.
Hoje, conduzia e o vento batia-me na pele. Escaldava. Na minha cabeça eras tu, sempre tu em quem eu pensava. Sentia ira. Estava inundado por uma frustração de te amar, de te desejar, mas de não te poder ter. Via-te, imaginava-te na tua altivez, indiferente aos meus sentimentos. Apetecia-me vingar-me, mas de quê? Sempre soube que não havia caminho a percorrer, apenas me iludi pelo fogo que me consumia.
Subi os degraus, entrei em casa, e mergulhei no vazio da solidão, de ter perdido o que nunca tive. A ressaca dos sentimentos é enorme. Com ódio, amaldiçoei o local onde te conheci, os cafés que tomámos, os telefonemas que me deliciaram, os poucos beijos que te roubei.
Para lá de mim, fica o horizonte, infinito e imperceptível.
Aqui, agora, viajo com as minhas asas de Ícaro,
Ora com voo rasante, ora com voo errante.
Fujo. Será do sol, será do frio, da tempestade?
Quão fugaz é o meu voo...
No presente, a certeza de já não ser quem era.
Sorrio, mas não tenho piada. Estou cinzento,
Como naqueles dias em que as nuvens ameaçam cair sobre a Terra.
Sinto-me espiga estéril em seara abandonada.
Luís Monteiro