domingo, 27 de abril de 2008

PERDIÇÃO


O tempo permanece inerte, quando a vida não se sente vivida. O simples aborrecimento de pensar no tempo, que por mim passa e por mim flúi, é motivo suficiente para pôr as mãos nas paredes e sentir o espaço limitado ao tacto e os horizontes limitados a um reboco de qualquer espécie.
Esse espaço é meu, está compartimentado, vem de mim, rodeia-me e aprisiona-me. Esgota-me o pranto, as perguntas, as respostas. Apaga-se o passado, que, como uma luz intermitente, brilha em segmentos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

RESISTIR


Vamos em bandos, todos juntos.
Icem as amarras, rebentem as grilhetas.
Corram, gritem pelos montes sonetos de alegria.
Dispam os disfarces, badalem os sinos, acordem consciências.

A verdade tem de alastrar por entre as nódoas que em fumaça se entranham.
É urgente, não a façam esperar.

sábado, 19 de abril de 2008

EXTENUANTE

És o meu pecado, o meu caminho erróneo,
És o meu devaneio em noites de loucura.
Fazes de mim a chama que nos inflama.

Violas-me com o teu segredo,
Fazes-me transpirar de desejo.

O teu corpo pede mais,
A minha boca arde,
Os teus olhos gemem.

Os nossos corpos abandonam-se à volúpia,
As nossas mãos gritam.
A minha boca perde-se no deleite da tua pele,
Os nossos corpos explodem na fadiga do delírio.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

AMICITIAE


De grande converteu –se em forte.
Obra do destino ou mera coincidência.
Nunca pensámos que surgisse,
Mas nada se interpôs nesta vontade mútua.
Vivemos e caminhámos lado a lado, mesmo que à distância.
Vivências comuns, partilhas.
Da alegria à perda, sempre me apoiaste no transvazar destes muros altos que na minha vida surgiram.
Foi assim, é assim.
Sem queixumes nem ressentimentos.
Sentimentos partilhados, ambições fracturadas.
És tu, sou eu. Estamos cá. Venha mais um ano.

Parabéns a nós!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

UTOPIA

"A utopía está no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela afasta-se dois passos. Caminho dez passos e o horizonte afasta-se dez passos. Por muito que caminhe, nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Para isto: serve para caminhar." Eduardo Galeano

sexta-feira, 11 de abril de 2008

HUM... É BOM!












É bom viver sem cilícios.
É bom querer mais, viver mais,
Sentir o odor que se entranha entre a pele e a alma.
Sentir que o espaço que nos separou foi o ponto de partida para um novo fôlego.
Sentir que o horizonte que nos uniu foi o mesmo que permitiu
Que os sonhos regressassem.

Com o sol poente veio o chilrear das aves,
Que nos beirais reclamam por espaço.

As asas caíram-te com o fim da madrugada.
As utopias ficaram mais uma vez adiadas.
Que importa questionar-te sobre as quimeras das insónias?
Vou içar as amarras. O dia urge.

NE ME QUITTE PAS


Não sou poeta, não sou escritor e não pretendo sê-lo.
Escrever é um acto solitário. Uma catarse de dentro para fora.

Há sempre algo que fica por exprimir, algo que se quer camuflar, algo que se quer partilhar. Há sempre um grito que apetece dar.

É nesta relação íntima que coloco a minha existência. Entre a alma, o papel e o computador.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

NA SOLIDÃO DOS SENTIDOS


Silêncio, solidão, insatisfação,
Saturação do paradigma que me rodeia.
Tenho os sentidos entorpecidos.
Que arquétipo é este em que me baseio?

domingo, 6 de abril de 2008

PARA LÁ DE MIM


Para lá de mim, fica o horizonte, infinito e imperceptível.
Aqui, agora, viajo com as minhas asas de Ícaro,
Ora com voo rasante, ora com voo errante.
Fujo. Será do sol, será do frio, da tempestade?
Quão fugaz é o meu voo...

No presente, a certeza de já não ser quem era.

Sorrio, mas não tenho piada. Estou cinzento,
Como naqueles dias em que as nuvens ameaçam cair sobre a Terra.
Sinto-me espiga estéril em seara abandonada.

Luís Monteiro

sábado, 5 de abril de 2008

E AGORA?

É de cólera o meu respirar desde a tua partida.
São de saudade as lágrimas que a custo amordaço nos meus olhos.
Guardo-te em mim, para que em mim vivas enquanto eu viver,
Mesmo que as minhas pegadas sejam exíguas desde que me despedi de ti.

E agora, pai, o que fazer do silêncio que ressoa onde tu passavas?

Eu sei que caminharás ao meu lado,
Eu sei que nos momentos em que sonhar tu serás a minha janela aberta.

Quando cair, dá-me a tua mão.