sexta-feira, 1 de abril de 2011




Do embalo feito na quietude de uma reminiscência surgiu-me a tua feição
Tentei reviver o prazer que me exalaste mas memórias não tinha.
Desvendei no meu íntimo a compreensão mais abrupta para essa exterioridade e encontrei uma cicatriz recôndita numa artéria mirrada pela escuridão.

A mão que puseras no meu corpo flamejante apagou-se na água que o meu corpo bebeu
E tu? Evaporaste-te na aurora ou escorreste-te no âmbar de um qualquer corpo que contigo se cruzou?

domingo, 20 de março de 2011

Falar de ti, no murmúrio de uma sombra que se faz pensamento
Querer-te, na impossibilidade de não haver água que nos transporte
Fugir do gelo que me avassala e negar que tudo o mais é nada e não volta
Porque não soube que a negação estava implícita nos teus sinais harmoniosos
Enquanto sinto que caminhar é um acto estóico e um imperativo do desejar, parto de dedos entreabertos, como crivo de um Ser que se procura esvair da coerência irascível do universo.

domingo, 6 de março de 2011

cumprir-me


Cumpre-se hoje o desígnio
Da incerteza, da sucessão.
Do abismo à novidade.
Nada espero que em mim já não exista.
Pernoitar num som etéreo,
Sentir que se cumpriu porque tinha de se cumprir.
Afinal, o sol veio, a brandura das árvores manteve-se e eu estava cá.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Reminiscências


Cerco-me deste sono incandesdente e leio tudo o que restou nestes escombros reminiscentes de uma analepse a um tempo perdido.

Se um dia ausente me sentir destas águas que por mim correm, então, parte de mim se encerrou na bruma de mais uma manhã que por mim passou.

sexta-feira, 28 de maio de 2010














Neste estóico sentimento de irredutível bravura,
percorro as linhas amotinadas dos meus sentidos letárgicos.
Iço os meus sinais ao vento que passa
E nos interstícios efémeros de candura inefável
Afasto os algozes que ao meu sangue se firmam.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Por entre as rochas nuas

Aqui me sento, entre as rochas cor de cinza, pilares da eternidade. Escorrego, deslizo pelos cristais e eternizo-me. Lá, onde o horizonte acaba, principia-se o advento. Afinal, não é o fim o início de um novo começo?

De costas inclinadas, afasto-me, com as mãos em formato de prece, subindo o promontório. No fundo do vale, o som da água que se apressa. No caminho, devorado pelas giestas e urzes, o som dos tamancos a sulcar as ervas errantes. O ar fica espesso a cada golfada exalada. É agora!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Naquele baú, eu guardava um sonho, arrumado entre os postais que recebi, as fotografias que embalei, livros que nunca li e as recordações que já esqueci. Havia dias em que me deleitava a remecher no meu passado. Os sonhos tinham cheiro, as emoções tinham textura e as lembranças do que já vivi pareciam ter acontecido ontem.



A ordem da minha vida perdia a lógica e todos aqueles meus pedaços perdidos no chão do baú pareciam jazer vivos. Que assombro sentir-me no meio daquilo tudo, sentir que um pouco de mim estava arrumado e esperava que eu lhe tocasse para renascer.


Juntava sempre mais um pedaço de mim junto aos outros pedaços engavetados. Perdia-os sempre que puxava por um e de cada vez um ressaltava por entre os outros, como que gritasse por mim e me pedisse colo. Ainda hoje não sei o que queriam de mim, mas o certo é que ainda hoje lá permanecem vivos.